Isso era para ser um romance dark? A tentativa de transformar o romance “O Fabricante de Lágrimas” em uma experiência cinematográfica digna de nota resulta em uma história confusa e personagens cujas motivações permanecem ocultas. Tudo acontece exageradamente rápido e, ao mesmo tempo, parece que a história não sai do lugar. É como correr em uma esteira. Com o desafio de resumir mais de 600 páginas em pouco mais de uma hora e quarenta minutos, o filme acaba trazendo um enredo prejudicado, com personagens pouco cativantes e sem uma conexão adequada.
Desde o início, o filme busca explorar um mundo sombrio e encantador, porém, a execução é insuficiente. Os eventos se desenrolam de forma apressada, deixando pouco espaço para a criação das motivações dos personagens. A intensidade das emoções, especialmente a paixão avassaladora de um personagem secundário pela personagem principal, parece não ter uma base sólida, o que pode deixar o público com uma grande ponto de interrogação se perguntando de onde surgiu tanto sentimento assim.
Compreensível que adaptações encontrem obstáculos ao tentar captar a essência de uma obra vasta como essa. Contudo, a falta de coerência e profundidade no roteiro prejudica a experiência do espectador. A obsessão apresentada no filme parece surgir do nada, sem as nuances e explicações que poderiam torná-la crível e impactante.
A adaptação é baseada no romance de Erin Doom, que foi um grande sucesso entre o público em 2022, principalmente no tiktok. Para aqueles que ainda não leram o livro, a ausência de um contexto adequado pode tornar tudo ainda mais frustrante. A falta de explicações claras deixa questionamentos sobre a origem e a lógica das emoções exageradas dos personagens.
O enredo
Ao adentrar o cenário do orfanato onde Nica nasceu, somos apresentados à lenda do fabricante de lágrimas, um elemento que permeia sua infância. No entanto, o longa entrega mais uma história repleta de clichês e superficialidades.
O enredo envolve a adoção iminente de Nica, agora adolescente, pelos senhores e senhoras Milligan. Contudo, o momento aguardado se torna desafiador quando ela descobre que terá que dividir o novo lar com Rigel, um órfão de natureza enigmática e sombria. Apesar de a ideia ser promissora, a execução não atende às expectativas.
O romance entre Nica e Rigel, embora seja baseado em um passado de dores, carece de química e profundidade. A narrativa é baseada em flashbacks e exposição verbal excessiva, o que torna a experiência cansativa. O filme tenta, sem sucesso, construir tensão com olhares penetrantes que se tornam normais depois de você ver o mesmo olhar pela 3ª vez em 10 minutos.
Apesar de alguns acertos, como a trilha sonora e a estética, o longa se perde em subtramas desnecessárias e não há um conflito real. A utilização de clichês românticos é excessiva e pouco impactante.
Com tudo isso, no momento em que escrevo esta matéria, o filme está em 1° lugar na lista de mais assistidos da Netflix.
Considerações
Em resumo, “O Fabricante de Lágrimas” não consegue atingir o seu potencial. A promessa de um romance adolescente genuíno e comovente é frustrada pela construção narrativa fraca, personagens superficiais e direção pouco inspirada. Infelizmente, uma experiência cinematográfica que decepciona as expectativas geradas pela sua premissa inicial.
E se quiser assistir, a dica é: opte pela versão legendada. O idioma italiano é uma das poucas coisas boas neste filme e torna a experiência um pouco mais atraente. Pelo menos os “apelidos fofos” ficam menos vergonhosos quando ouvidos na língua original.
Confira o trailer
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