JogadaDeMestre #06 | Call of Duty: Black Ops 6 (Review)

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Definitivamente não é apenas outro Black Ops…

 


 

Diz um comentário de rodapé de Philip Kotler e Gary Armstrong em uma das bíblias do Marketing moderno:

“Um piano de cauda Steinway normalmente custa algo entre sessenta e um mil e centenas de milhares de dólares. O modelo mais popular é vendido por cerca de oitenta e sete mil. Mas pergunte a qualquer pessoa que possua um piano de cauda Steinway e eles lhe dirão que, quando se trata de Steinway, o preço não é nada; a experiência Steinway é tudo. A Steinway fabrica pianos de altíssima qualidade – cada Steinway com mais de doze mil peças individuais requer, para construção, até um ano completo. Contudo, mais importante ainda: os proprietários compreendem a mística da Steinway.” (Princípios do Marketing, 17ª edição, p. 38)

E se a unicidade possui essa relação tão próxima com o valor, não é complicado visualizar em que pé estamos quando analisamos as franquias de jogos de tiro. Verdade seja dita, são vários os players: do fenômeno de Overwatch ao clássico de Apex, Legends; passando por Rainbow Six, e pelos titãs Counter Strike e Valorant, todos colocam algo absolutamente excepcional na mesa. Da mesma forma, é impossível fugir do fato de que o mundo precisa de Call of Duty (CoD). E em se tratando de um novo Black Ops, estaremos diante de um produto ainda mais sui generis.

 

Lugar

Black Ops 6
Helen Park

E mesmo em Call of Duty, possuidor de algumas subfranquias: qual é o lugar de Black Ops? Ora, o verdadeiro lugar de Black Ops está na conspiração. No cheiro da Guerra Fria; aquela guerra antiga, suja, controversa e esquecida, agora revisitada e reinterpretada. Em um mundo onde herois e vilões são comumente simplificados em narrativas maniqueistas, Black Ops desafia essa visão reducionista. Ele nos força a encarar as complexidades e dilemas morais de um soldado empunhando um fuzil, mostrando o quanto a realidade vai além de mera batalha entre o bem e o mal.

Nesse clima, a franquia ganhou sua iteração anual para 2024, Call of Duty: Black Ops 6 (BO6). Desenvolvido pela Raven e pela Treyarch, o jogo distribuído pela Activision é o sétimo da série Black Ops (a qual se iniciou de facto em Call of Duty: World At War, de 2008). Situado na década de 90 e contendo toda a vibe conspiratória já característica da série, temos aqui agentes preocupados com o fim da milícia Pantheon, grupo secreto que deseja interferir vorazmente na CIA e vem fazendo acordos com figuras complicadas do então mundo noventista – entre eles, o próprio Saddam Hussein.

 

 

Estado da arte

O multipremiado Advanced Warfare (2014) possuía um dos melhores elencos e isso não foi o suficiente para, por conta própria, cair nas graças dos fãs; enquanto isso, o belíssimo Black Ops III (2015) entraria para a história de CoD como um dos mais bem aceitos shooters, talvez, de todos os tempos, com as vendas alicerçando o divulgado sucesso. Infinite Warfare (2016) venderia bem menos, e ter Jon Snow de antagonista (Kit Harington é o vilão) o salvaria; Call of Duty: WWII (2017) teria, talvez, o melhor trabalho de texturas na série, e viria como um jogo mais certinho em todos os atributos.

Black Ops 4 (2018) teve performance razoável mesmo sem um modo campanha claro, além do interessante modo Blackout, o que por si só já é um feito. O reboot de Modern Warfare, em 2019 (MW2019), se tornaria um dos mais vendidos da história, e traria com ele a atualização Warzone, futuramente um CoD em particular, e estabeleceria uma segmentação no fandom dentro de seus próprios modos de jogo.

E há ainda mais fatos a considerar: PUBG fez pelo menos 13 bilhões de dólares e é um dos jogos mais vendidos de todos os tempos, com violentíssimas 75 milhões de cópias vendidas em PCs e consoles. Overwatch vendeu 50 milhões de cópias, uma performance histórica. MW2019 vendeu 30 milhões de cópias e foi responsável por uma revolução técnica; um dos seus braços foi Call of Duty: Warzone, o qual, em meio a tantos bugs, foi incrivelmente competente e teve uma aceitação enorme, em especial em sua primeira temporada – a já clássica era Verdansk.

Isso nos faz pensar: qual será o número mágico de BO6 no quesito vendas? E mais importante ainda: o número mágico pretendido pela Activision fará sentido com a performance do jogo com a crítica e jogadores, que são fieis e quase sempre comparecem?

A conferir.

 

Modos de jogo

Há vários personagens retornando ao mundo de CoD e ao modo campanha de Black Ops, como Russell Adler, que claramente será deveras importante para a trama em construção e Frank Woods – sim, aquele mesmo, do primeiro Black Ops. Na história, em geral você é William Calderon, o “Case”, um personagem inventado para literalmente ser você no jogo e ter sua identidade.

O modo campanha de Black Ops 6 é ainda mais cinematográfico em comparação aos anteriores. Dá gosto de ver Call of Duty se transformar nessa experiência imersiva: um filme “jogável” ou um jogo “assistível”? Você escolhe. O fato é que a imersão nunca esteve tão grande.

É possível argumentar o Multiplayer como o coração de qualquer Call of Duty de verdade. Aqui, temos em geral espaços variados, agressividade, chat aberto, respawn único/livre, e vários modos e configurações de jogo – daquelas transitando por cenários mais extensivos e de enorme área, com vários players, e por locais mais confinados, com “cantinhos” dedicados a facilitar ou complicar as coisas, talvez até mais players ainda.

E o incrível – sempre muita análise e valor de replay, dada a competitividade dando as caras o tempo inteiro por aqui. Merecem destaque os mapas Skyline, um dos mais bonitos de toda a franquia; Gala, aparentemente feito para surpreender adversários; e Payback, claramente tirado de algum canto do Urzikistão. O novíssimo Kill Order, cuja ideia é matar um alvo de alto valor e ao mesmo tempo proteger o seu, é maldade pura e deve ser experimentado por todos os perfis de jogador.

O Zombies cumpre função parecida em relação à série Black Ops. Zombies, mas Zombies de verdade: aprimoramentos nos mapas (Terminus e Liberty Falls são um espetáculo), turnos de batalhas contra os bichos, e nutrientes saudáveis para os olhos de qualquer jogador de Call of Duty: carnificina, exageros, cores, clima de brincadeira e balas. Doces?

Não, balas chovendo por todo o cenário, balas de metralhadora, de pistolas, de escopetas.

Zombies é o parque de diversões de CoD. E, devemos dizer, aparentemente os desenvolvedores dessa vez estavam inspirados. Oscar Wilde disse certa vez, “arte somente começa onde termina a imitação”, e essa originalidade presente em BO6 só advoga pela qualidade do produto.

 

High Tier técnico

Com a palavra, o site oficial de Call of Duty:

“Em parceria com a Treyarch Studios, a equipe de desenvolvimento para PC do Call of Duty, Beenox, está desenvolvendo uma experiência de ponta para PC com gráficos em 4K e suporte a ultrawide, além de um grande número de opções em diversas configurações para os jogadores terem a melhor experiência de jogo possível.”

Resposta da AMD para o DLSS 3 – tecnologia de upscaling em tempo real, usando IA, para elevar a resolução dos quadros, melhorando a qualidade visual e a performance dos jogos, o FSR 3 (por extenso, o AMD FidelityFX Super Resolution 3) funciona muito bem e ajuda a otimizar o que pode no jogo. Há um aumento sólido de frames por segundo porque o jogo gera quadros em resolução inferior, exigindo menos poderio de Hardware, e a IA cuida do upscaling destes quadros; isso faz aumentar a sensação de qualidade percebida.

Já o AMD FidelityFX Contrast Adaptive Sharpening (CAS) é mais preocupado com o acabamento, as extremidades e o ajuste fino dos detalhes da imagem. E consegue fazer muita diferença.

 

Superior, desde a mobilidade

Quanto à jogabilidade, temos em BO6 a adoção do Omnimovement. Ele faz os jogadores poderem correr, deslizar e pular em qualquer direção, incrementando a fluidez ao movimento como nunca antes. O cuidado é tomado desde o modo tutorial no jogo, e o impacto não poderia ser maior. Há uma sensação agradável de “encaixe” no movimento do jogo, como se você tivesse total liberdade para mover o personagem, o que dá a impressão de incompletude na jogabilidade. E o realmente curioso é: essa sensação só ocorre porque, de fato, você tem mais opções. Essa sensação te força a tentar se mover mais rapidamente, também; parece limitante, mas é agradável ao mesmo tempo.

O desafio técnico da otimização é permanente, e quanto mais retrocompatíveis as tecnologias de IA estiverem para otimizar os jogos, veremos mais incrementos interessantes, da experiência de jogo à quantidade de quadros por segundo.

 

Cofre

A Edição Cofre está disponível para Windows (Steam/Battle.net), Xbox e Playstation. Juntamente com o jogo, ela vem com um Pacote de Operador Caçadores vs Caça (Skins muito bonitas de Park, Adler, Brutus e Klaus), Coleção Mastercraft (5 armas com design diferenciado), o pacote Gobblegum para o modo Zombies (itens garantidores de vantagens temporárias aos players e kits) e vantagens no Warzone (Blackcell, CoD Points e pulos de Tier em uma temporada).

Tal versão é um pouco mais cara em comparação à versão padrão do jogo, acréscimo este justificável em função do nível entusiasta esperado quanto ao jogador que a terá. Assim como versões exclusivas e de colecionador de produtos são convenções de quase todo mercado gamer, a versão Cofre tem vantagens justas de serem compensadas.

 

Veredito

Não adianta.

É inevitável.

A expertise técnica sempre esteve acima; a interpretação no modo campanha; a jogabilidade; o nível cinematográfico de produção; o esmero nos itens; os modos de jogo de valor de replay enorme… e o hype, como cereja do bolo.

Estamos diante do melhor jogo da série Black Ops, um dos melhores jogos de toda a saga Call of Duty, e com certeza um dos melhores shooters lançados nos últimos anos. Black Ops 6 tem o feel de Cold War (2020), a incorporação correta de tecnologias do Modern Warfare de 2019, e uma pegada bem 2024 de lançamento de game competitivo de nível mundial.

Um jogo singular, quase uma analogia perfeita do que Call of Duty é para o mundo dos games, e que vai ter seu lugar no panteão de forma merecida por motivo justo: gigante, por ser único.

Há coisas que você só tem em Call of Duty. Não adianta.

 

P.s.: por último, mas nada menos importante: ficam aqui nossos mais sinceros agradecimentos à Theogames, pela confiança, e à Activision pela cessão do código do jogo para este Review.

 

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