critica fallout

Crítica | Fallout: Com o humor excêntrico já conhecido na saga, série agrada antigos e novos fãs

Compartilhe isso:

Mais do que uma adaptação, a nova série inspirada no universo de Fallout expande ainda mais seu universo, ao mesmo tempo que serve como introdução para quem não conhecia o jogo.  

 

A primeira temporada do live-action da série de jogos Fallout acabou de sair, e conseguiu encantar os fãs com episódios muito bem produzidos e recheados de fan-service.  

A primeira temporada da adaptação se desenrola a partir da ótica de 3 personagens centrais, Maximus (Aaron Moten) um recruta de uma facção paramilitar denominada Irmandade do Aço, um Ghoul (humano modificado fisicamente pelo excesso de radiação) chamado Cooper Howard (Walton Goggins) e por fim Lucy MacLean (Ella Purnell), que é uma habitante de um dos muitos refúgios criados pela empresa Vault-Tec para abrigar sobreviventes da explosão nuclear que destruiu a Terra. 

Para a alegria de muitos, a série contou com diversas referências, desde as marcas de comidas existentes no jogo, armas de plasma, uniformes de refúgios, cenários idênticos e criaturas radioativas que os players costumam encontrar nos games da saga. 

Talvez a coisa mais divertida nos jogos do universo Fallout seja a liberdade que o jogador possui para explorar os ermos e se relacionar com as facções deste cenário pós-apocalíptico. Por essa razão, o andamento do live-action na visão desses 3 personagens se mostra como um grande acerto inicial – que proporciona ao espectador experenciar os diferentes ambientes existentes no cenário devastado da California, mesmo que essa nova história não se trate de um produto interativo.  

Se no RPG o jogador poderia tomar escolhas boas ou ruins, na série o espectador poderá testemunhar as consequências da ingenuidade de Lucy, que insiste em ser sincera e gentil o tempo todo, e da malicia de Maximus e Cooper, que são extremamente individualistas por serem sobreviventes neste mundo hostil – mas que são cobrados por suas escolhas moralmente falhas e por vezes egoístas. 

 

Divulgação

Como dito anteriormente, a série faz referências a diversas marcas existentes no game como a famosa Nuka-Cola (paródia da Coca-Cola no universo do jogo), Sugar Bombs (que é um tipo de cereal matinal), Red Rocket (um posto de gasolina do pré-guerra) e RobCo (uma fábrica de robôs famosa), cujo CEO é o vilão de Fallout: New Vegas. 

A série acerta demais no fator fan-service. Fãs de longa data podem ver diversos elementos bem representados e quanto a isso não existem pontos negativos. As cidades lembram muito o jogo, com casas feitas de sucata, vendedores ambulantes negociando tampas e fazendeiros pastorando Brahmins (vacas modificadas pela radiação e que possuem duas cabeças). 

A trilha sonora é maravilhosa e podemos ouvir tanto sons icônicos dos jogos quanto novas músicas, que tem tudo a ver com a atmosfera de Fallout. “I Don’t Want to Set the World on Fire” da banda The Ink Spots é, sem dúvida, uma das músicas mais memoráveis da série, por estar presente na maioria dos jogos da saga e sempre carregar uma grande ironia na letra e em seu próprio nome – que traduzido significa algo como: Eu não quero colocar fogo no mundo.  

Outro ponto que impressiona é como os abrigos da Vault-Tec são idênticos aos dos jogos. Elementos como: os famosos macacões azuis dos habitantes, o acabamento das portas automáticas, janelas e dormitórios, fazem com que a gente sinta que já estivemos por ali antes. Existem diversos outros elementos bem representados na série, mas se citasse todos poderíamos ficar aqui por horas. 

Entre as ótimas referencias, estão as facções que podem ser escolhidas como afiliadas nos jogos, e podem acabar determinando o final das histórias. Na série, a Irmandade do Aço (grupo paramilitar que Maximus faz parte) possui as mesmas temidas armaduras abastecidas de energia nuclear. 

Ao longo da trama, Lucy que é habitante do Vault 33, terá que sair de seu abrigo para salvar a vida de seu pai, ficando claro aqui uma referência ao Fallout 3 – onde o habitante do Vault 101 sai em busca de seu pai pelos ermos de Washington D.C.  

Falando do elenco, as interpretações estão impecáveis e os atores Aaron Moten, Walton Goggins e Ella Purnell formam um ótimo trio de protagonistas.  

Goggins, que fez personagens bem sacanas em Justified, Sons of Anarchy e Oito Odiados, parece carregar elementos e experiencias de seus papéis anteriores e transportar para seu personagem Ghoul, o caçador de recompensa metido a pistoleiro.  

 

Divulgação

A graciosidade e bondade de Ella Purnell contrasta muito bem a relação da personagem Lucy com os sobreviventes do mundo devastado.  

Por fim a história de Maximus traz para perto a vivência de um recruta de uma das facções mais legais da franquia, a Irmandade do Aço. Aaron Moten nos entrega uma atuação consistente e que não decepciona.  

Apesar das toneladas de referências que a série faz, se engana quem acha que Fallout é um produto feito apenas para quem já fã. A proposta dessa adaptação era gradar os que já conheciam, mas também expandir o universo para um novo público, e de fato todas as metas foram atingidas. Na Europa por exemplo, os últimos jogos registraram um pico de 7.500% nas vendas entre todas as plataformas, mostrando o evidente sucesso dessa primeira temporada em angariar novos seguidores. 

O diretor da série é Jonathan Nolan, e como uma pessoa que teve o prazer de conferir seu trabalho anteriormente em Westworld (série que retrata um parque temático do velho oeste), posso afirmar que existe uma certa semelhança caótica aqui. Para além da aparência similar que Fallout possui, com o oeste selvagem de Clint Eastwood ou a pose de cowboy do personagem Cooper, podemos perceber que ambos os universos dirigidos por Nolan possuem pouca civilidade, muita frieza e quase sempre os conflitos são resolvidos com tiroteio. Por fim, só posso definir a direção como ótima, já que quase todos os episódios ultrapassam uma hora de duração e quase não se percebe o tempo passar enquanto estamos envolvidos com o desenrolar da aventura. 

A série possui muitas características positivas, e quase todas merecem a citação – no entanto isso não significa que ela não tenha um problema ou outro. Dentre os pontos negativos vale citar a ingenuidade que o roteiro traz aos personagens, a fim de colocá-los nas situações que a série precisa. Em dado momento o personagem Maximus se enrasca sozinho ao contar algumas mentiras evitáveis, o que leva o espectador a se perguntar por que ele fez isso; provavelmente porque o roteiro precisava. 

Outro ponto negativo é a reprodução de elementos do game serem pouco imersivos para uma adaptação live-action, como por exemplo, soros e medicamentos que são itens consumíveis nos jogos e que na série são capazes de curar qualquer doença ou regenerar quase que instantaneamente qualquer fratura exposta do corpo humano. 

Fallout, sem dúvida, entrega o que promete e apesar de tomar algumas decisões no roteiro qu poderiam ter sido mais criativas, não deixa de ser um ótimo entretenimento. Algo que te deixa com vontade de mais assim que acaba o último episódio. Após as metas batidas e uma estreia que já definiu Fallout como uma das melhores séries do ano, agora só resta esperar que a série mantenha o alto nível de produção em sua segunda temporada – afinal, estamos entrando em uma nova era para as adaptações de vídeo game. The Last of Us já impressionou o público com seu alto nível de trabalho.  

De fato, depois de uma ótima aventura como essa, agora sobra ao espectador teorizar os rumos da segunda temporada que já foi confirmada logo após o lançamento da primeira parte.  

 

Mais conteúdo

© 2023. O Mestre da HQ / Em memória de Juarez Mariano